Habeas Corpus nº 379.877/SC, do Superior Tribunal de Justiça
Relator : Jorge Mussi
DECISÃO
Trata-se de habeas corpus, com pedido liminar, impetrado em favor de X contra acórdão proferido pela Terceira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, que negou provimento ao Agravo em Execução n. 0016801-20.2016.8.24.0023.
Narra a impetração que o paciente, condenado à pena de 2 (dois) anos e 11 (onze) meses de reclusão, em regime inicial fechado, pela prática do delito previsto no art. 33, § 4º da Lei n. 11.343/2006, requereu ao Juízo da execução a retificação do cálculo de suas penas com o intuito de fossem alterados os lapsos para progressão de regime, tendo em vista o recente posicionamento do STF em relação ao delito perpetrado.
O pedido foi indeferido, o que ensejou a interposição de agravo em execução penal perante o Tribunal estadual, que não proveu o recurso.
Daí o presente mandamus, no qual o impetrante sustenta a ocorrência de constrangimento ilegal ao argumento de que o paciente, condenado como incurso no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006, estaria cumprindo a sua reprimenda como se o delito em questão fosse hediondo, tendo de alcançar lapsos temporais maiores para obtenção de eventuais benefícios prisionais, mencionando que o apenado já teria cumprido 1/6 (um sexto) de sua pena.
Ressalta que o STF, no julgamento do HC n. 118.533, consolidou o entendimento de que o tráfico privilegiado de entorpecentes deverá receber tratamento distinto daquele atribuído aos crimes hediondos e equiparados, uma vez que o legislador o considerou como delito de menor reprovabilidade.
Requer, a concessão sumária e definitiva da ordem constitucional para que, superado o aludido óbice, seja afastada a hediondez do delito de tráfico privilegiado de drogas, a fim de que paciente, após o cumprimento de 1/6 (um sexto) de sua reprimenda, possa pleitear a progressão prisional almejada.
É o relatório.
Sabe-se que o acolhimento de liminar em sede de habeas corpus reserva-se aos casos excepcionais de flagrante ofensa ao direito de ir e vir do paciente e desde que preenchidos os pressupostos legais consistentes no fumus boni juris e no periculum in mora.
Contudo, em um juízo perfunctório próprio desta fase procedimental, verifica-se a plausibilidade jurídica do direito invocado, necessária à concessão da medida sumária.
É orientação da Terceira Seção deste Superior Tribunal, firmada no julgamento do REsp n. 1.329.088/ES, representativo da controvérsia, segundo a qual “a aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas, uma vez que a sua incidência não decorre do reconhecimento de uma menor gravidade da conduta praticada e tampouco da existência de uma figura privilegiada do crime” (REsp 1.329.088/RS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/03/2013, DJe 26/04/2013).
Nesse sentido, tem-se, inclusive, a Súmula 512 desta Corte.
Todavia, cumpre esclarecer que o decisum impugnado se encontra em dissonância com a jurisprudência recente do Supremo Tribunal Federal, no sentido de que o tráfico privilegiado de drogas não possui caráter hediondo (HC n. 118.533/STF, Ministra Carmen Lúcia, julgado em 23/6/2016), decisão que, embora seja desprovida de caráter vinculante, reflete o posicionamento da maioria do Plenário do Órgão legitimado a interpretar a CF/88.
Diante do exposto, defere-se a liminar para determinar que o Juízo da execução proceda à retificação do cálculo de penas impostas ao paciente, desconsiderando a natureza hedionda do delito de tráfico privilegiado de entorpecentes para fins de benefícios prisionais, excetuado o indulto e a comutação de penas, cuja proibição decorre da própria Constituição Federal.
Comunique-se com urgência o teor desta decisão ao Tribunal impetrado e ao Juízo de origem para que tomem as providências cabíveis e prestem as necessárias informações.
Solicitem-se informações à autoridade tida como coatora e ao Juízo da Vara de Execuções Criminais a respeito da situação do paciente após o cumprimento da liminar.
Após, abra-se vista ao Ministério Público Federal para manifestação.
Publique-se. Intimem-se.
Brasília (DF), 22 de novembro de 2016.
MINISTRO JORGE MUSSI
Relator
Contribuição: Dr. Alexandre Bien Neuber
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |